Soube da existência de um texto que se encontra numa edição da saudosa Ímã que, por algum motivo, não chegou a ser publicada. Alguns dizem que essa edição se perdeu entre a morte de Leminski e a chegada do neoliberalismo. Acontece que no Espírito Santo tudo demora: o local quer ser universal se esquecendo de […]
Categoria: Densidades da memória
Densidades da memória (ou a chusma de um porto)
(Para você quem não vê nosso lado ocidental e teme a solidão como que teme os dias de viver, e ainda não sabe que somos da América do Sul) O reverso da música é verdade: a hora da despedida também é encontro. Com que ou quem exatamente não se sabe. Alguns cafés e algumas tardes […]
Densidades da memória (o trampolim)
Estou na ponta do trampolim para saltar, mergulhando em sua mão sem saber que destino reservar, e quando neste mundo apontado não me localizar, só restará esperar, o mar ocupando de vez seu lugar na língua que me transcreve.
Densidades da memória (isso não é um texto)
Não que a novidade seja a Alemanha reconhecer o genocídio armênio, nem Prince morrer de overdose de ópio; menos ainda, que haja rastros de destruição provocados por chuvas e tempestades de granizo – aquelas pedras de gelo que caem do céu. Ocorre aqui, e já não é o mesmo que lá, pois esse vento correndo […]
Densidades da memória, ou em algum lugar da linguagem, tentando me entender.
Me sinto velho demais para minha idade (28 anos), e sou ainda mais novo para a velhice que sinto (perto dos quarenta anos imagino!). Ora, paradoxo bizarro e in-concreto esse. Cheguei hoje em mim, mas já quero partir amanhã sem saber como posso em mim se delongar. A verdade nua e crua é que não […]
Densidades da memória (espermacete)
Desata o nó da palavra olhando o mar. Destila, gota a gota, o esparmacete do inconsciente. Deita no divã, fala, repete, elabora, analisa. Enquanto uma palavra for água parada suas frases também serão sangue pisado da carne já moída. Trabalha e reza para que os dias sejam assim: com o sol batendo no mar à […]
Densidades da memória (a pele)
Deus desagua nas coisas como um rio que não recusa o mar e, mesmo assim, só estamos próximos de alguém quando estamos dispostos a perder. A hora, essa nunca saberemos. Essa é a sensação de olhar no espelho e reconhecer a falha de nosso reflexo que também como a pele, ainda sendo superfície, é atravessada […]
Densidades da memória (figura de um trabalhador)
Naquele dia que contém todos os dias, o trabalhador que corre atrás do pão se afoga em piscinas vazias. Olhando, atrás de um balcão, as pessoas passando a sua mente se parecia, e muito, com o infinito de um espelho refletindo outro. O calor, a neblina marítima, o vento abafado e aquela decoração de natal […]
Densidades da memória (Depois de nós)
Um onírico aviso pede para deixar Sodoma e Gomorra, é como os ventos do destino que me empurram para fora da infância mas não me deixam ficar longe da criança interior, a terceira metamorfose. Fugerem urbem, dizem. “Tal ideia romântica de abandonar a imagem quixotesca de quem, de fora, vê lentamente a vida se transfigurar […]
Densidades da memória (criar laços, desatar nós)
Me sinto solitário e penso nas palavras que disse, sem querer que elas saíssem da minha boca. “Não fui eu quem as coloquei ali”, digo a minha consciência. Estou aquém dela e não sei das artimanhas do inconsciente. Atitude naïve crer na bondade da língua. O que saí dela não tem valor em si, só […]