Boris Pasternak (1890-1960), poeta russo, num de seus poemas escreveu que “Ser famoso não é bonito./ Não nos torna mais criativos”. A fama em questão estaria mais próxima da bajulação e bem distante da ideia de engajamento, engajamento esse que torna “dispensável os arquivos” e faz com que um manuscrito seja apenas “só um escrito”.
Pasternak, suponho, por um lado, brinca com a ideia de que o artista é um tipo de herói moderno, alguém disposto a experimentar uma certa experiência limite que o coloca acima da sociedade e do tempo que ele habita, mas, pelo outro lado, assume as consequências de não aceitar essa glória quando escreve:
O fim da arte é doar somente.
Não são os louros nem as loas.
Constrange a nós, pobres pessoas,
Estar na boca de toda a gente.
Ora, se a finalidade da arte é tão somente doar, tanto na poesia como na atitude intelectual de Pasternak, está em jogo a suspensão daquilo que Marcel Mauss chamou de dádiva. Não há necessidade alguma de retribuir aquilo que o poeta supostamente oferece para sua sociedade e sua cultura. Em vez da retribuição, afinada a uma ideia de finalidade, importa, talvez, manter a ironia em que o riso de si mesmo e a admissão do fracasso são os verdadeiros sustentos do artista moderno.
O reconhecimento desses defeitos, ou dessas qualidades, para usar uma expressão popular, é o que permitiria um artista “estar na boca do povo”. Surge a questão: se a glória e o reconhecimento não movimentam a vida do artista, outra necessidade o impele a assumir uma postura de, digamos, “pura doação”. O artista autorizaria-se pelo fracasso e por suas falhas diante do suposto êxito.
Com isso, inicio a construção de um argumento que, ao se aproximar da ideia de fracasso, esmiúça quais as consequências de uma suposta rejeição da glória que, paradoxalmente, chamarei de teoria da fama.